sábado, junho 10, 2006

PATAGÓNIA 29 a 31 de Março 2006 - ARGENTINA & CHILE - Isla Grande Tierra del Fuego

(uma pequenina Chilena, de Porvenir)
Não choveram canivetes e se tudo corresse bem iríamos directos até Punta Arenas, Chile.
Dois minutos depois de sairmos da cidade parámos!
Duas brasileiras pediam boleia e quando viram a nossa matrícula do Rio de Janeiro ficaram tão excitadas que nós não tivemos coragem de não parar. Uma foi na Bambi e a Ludi (Ludmila, coitada!), uma carioca “legal”, veio connosco. Durante a viagem surgiu um cheiro estranho a qualquer coisa queimada e eu, à falta de outros suspeitos, ainda olhei de lado para a Ludi mas, de facto nunca ouvira falar de “pus” com um cheiro assim… (Para todos os que não habitam no 375 da Rua de Fez fica a explicação: Pus quer dizer “puns”)
Em Rio Grande deixámos as brazucas e o cheiro permanecia, além disso os Bambinos informaram-nos que durante todo o caminho até ali levaram com “un monton” de fumo preto. Juntaram-se as pistas e a memória de que pela manhã encontráramos umas pingas de óleo debaixo da Kombi. Óleo zeros. Uma desgraça!
O curso fora sinuoso e íngreme quase até Rio Grande e a kombinha estava a perder 1 litro de óleo a cada 100km. Eu – que não percebo nada disto – queria seguir caminho depressinha, mas o olhar incrédulo do Fred fez-me entender que seria o mesmo que dar alta a um tipo com 5 de hemoglobina. Mais valia ter explicado logo!
Comemos e dormimos. “Desayunámos” e lavámos a kombi, toda lindinha para ir ao mecânico. O senhor – uma simpatia – esteve umas horas à volta daquilo com os rapazes, enquanto a Fanny e eu conhecíamos a sua mulher, encantadora, que entretanto nos convidara a beber um “mate” e me ensinava como suavizá-lo para tentar que o Fred ultrapassasse a má experiência da primeira vez. Mas só daqui a uns meses eu voltaria a ser convidada para uns mates e aí sim, tornar-me-ia uma verdadeira adepta do culto Mate. No final o mecânico não cobrou nada, pois não estava seguro do seu diagnóstico e tratamento, pelo que seguimos viagem com uns litros de óleo sobresselentes, just in case. E foi caso disso, que a pobre kombosa continuava a mijar escuro.

Entrámos no Chile em San Sebastian mas não houve grandes mudanças em relação à última parte que percorrêramos na Isla Grande de Tierra del Fuego argentina – o silêncio abunda, interrompido pelo ruído cinzento dos nossos motores; a estrada raramente ondeada, ora de terra ora asfaltada, marginada por campos de estepe e alguns prados a quererem abeirar o verde; uns rebanhos aqui e ali e alguns pássaros resumiam a fauna existente.


Seguimos em direcção à costa oeste da ilha, a uma vila aonde apanharíamos uma balsa para Punta Arenas. Um pouco antes de Porvenir a paisagem é animada pelo aparecimento do mar azul forte e escuro do Estreito de Magalhães e chegados a essa vila pequenina enchemo-nos de sorrisos pois estávamos todos ansiosos por chegar à civilização. Todavia, Porvenir apresentava-se catita e arrumadinha.


Dirigimo-nos ao porto, prontos comprar o bilhete da próxima balsa, crendo que haveria balsa de hora a hora. Já se está a ver. A única balsa do dia partira às 13h e a do dia seguinte seria às 19h. Socorro! Era dia 30, faltavam umas horas para o Fredim fazer 33 anos e estávamos presos no fim do mundo. Sem presentes, sem bolos e sem velas! (Sou um verdadeiro Cristo)
Resignados com o destino, procurámos um hotel e um restaurante onde se pudesse pagar com cartão, pois não tínhamos pesos chilenos e havia uma única caixa automática em toda a cidade que não aceitava Visa! O Marcelo, a Fanny e o Paolo já não se podiam ver nem pintados, que as contrariedades do acaso aguçam o mau feitio e dentro daquela Bambi chispavam faíscas de stress! Entre tantas desditas conhecemos o gerente do Banco, que nos pôs a par de uma peça de Teatro que uma companhia de Santiago trazia essa noite a Porvenir a convite da câmara Municipal. E enquanto o Tano se punha a milhas, caminhando para relaxar, o Marcelo desencantou finalmente uma pousada deste século, que aceitava Visa, American Express e os demais, e que servia jantar! O meu amor afinal teria uma noite decente.


Fomos dar uma volta a pé pela cidade já escura, coberta pela noite limpa e fria. Entrámos no auditório e a peça de teatro já tinha começado. Vimos o Tano sentado na plateia, de sorriso estampado, sentámo-nos, divertimo-nos durante uma hora com os personagens estapafúrdios interpretados lindamente pelos actores e no final aplaudimos todos juntos, concordando que a peça superara em muito as nossas baixas expectativas.

(um diálogo hilariante entre uma branca de neve sexualmente preversa e um capuchinho vermelho totalmente inocente...)
Jantámos muito bem e apesar de não haver bolo, houve cantoria à meia-noite, animados e de taças de vinho erguidas ao Fredim.

(afinal há presentes!)

(e azul é a sua cor preferida! - futebol à parte é claro)


A Fanny ofereceu-lhe um gorro de lã que tricotara durante a viagem, mas o verdadeiro presente foi a meio da manhã, quando o vento decidiu soprar contra as colinas costeiras e o Fred levantou voo, a comando do Marcelo e da Natureza, sobre o estreito Magalhães e a vista da pequena cidade!

(eh eh, eu faço anos e vou voar!)

(a flu não quis ir..)

Levantaram e pousaram umas três vezes, devido à força instável do vento, que ia e vinha, e quando se ia eles rasavam a estepe dourada e agreste, e levantavam depois num repente, se o vento voltava. Foi nestes altos e baixos que lhe cantámos de novo os parabéns, gritando para o céu, primeiro em castelhano e depois em português.


Às 19h todos prontos, carros atravancados dentro da balsa e passageiros a bordo que se faz tarde.

Três horas de viagem a jogar cartas dentro da Bambi, entre balanços, enjoos e chuveiradas de água salgada, que as ondas magalhanicas não estavam para brincadeiras.

(Falta o Glossário!!!)