quinta-feira, maio 25, 2006

PATAGÓNIA 24 de Março 2006 - Ushuaia (PINGUINS)

A paisagem era tão ou tão pouco encantadora que o Fredim decidiu ficar do lado de dentro, por detrás do vidro da janela, abrigado do vento e do frio de já 2 metros por essa altura… Ele e o computador, claro, para escrever e eventualmente dar uma espreitadela nos sites A Bola e O Jogo, sempre abertos.
Entretanto um americano chamado Dan ganhara o dia com a boleia que lhe ofereci. Saímos do hostal sem grandes planos, e embora tivéssemos ambos uma enorme vontade de ir em algum dos muitos passeios turísticos pelo canal Beagle – especificamente os que incluem a Isla Pinguinera – estávamos reticentes aos preços. Decidimos ir de kombi, conhecer os arredores. Fizemos 90km quase sempre acompanhando costa, seduzidos pelas cores que parecem avivar-se quando o ar é frio num dia de sol.
Chegámos a uma propriedade privada chamada Estancia Harberton, muito conhecida por se situar justamente em frente à ilha dos pinguins. (Meus amigos, coloquem-se numa posição cómoda e preparam-se para um verdadeiro tratado sobre pinguins, as suas qualidades e defeitos em oito volumes!) Questionávamos se poderíamos ver pinguins no continente, mas rapidamente nos roubaram a esperança. A “pinguinera”, como lhe chamam os locais, fica a 20 minutos da estância. Os barcos que saem de Ushuaia demoram uma hora e cobram cerca de 200 pesos para passar ao lado da ilha. São grandes, confortáveis e levam uma centena de turistas. O bote que parte da estância leva 12 pessoas incluindo o piloto e o guia, é um barco semi-rígido, entrada livre para a chuva e para o vento, 70 pesos para ir até à ilha e ficar dentro do bote com o piloto, ou 150 para sair do barco com o guia e percorrer a ilha pelo meio dos pinguins. O Dan não pensou duas vezes, pagaria os 150 pesos. Quem me conhece adivinha que pensei umas três ou quatro vezes, ponderei esperar por ele na estância acompanhada pela Flu e pelo romance do Paul Auster, perguntei a que distancia dos pinguins ficava o local onde param o barco e decidi pagar meio bilhete! (já estão a imaginar o que é ir fazer as compras do mês lá para casa aqui com a doutora)

(Flu na Estância Harberton)
Todos a bordo. Dois miúdos canadianos, dois cotas espanhóis, um casal alemão e outro de argentinos, o Dan, Andre – el capitan – o guia, eu e o meu livro. No início da viagem fixei-me na paisagem, nas ondas do mar que salpicavam os óculos de Andre, alto e corpulento de queixo erguido, que conduzia de pé e apesar da ondulação emanava uma sensação de enorme estabilidade. Podia ver-se Puerto Williams na outra margem do canal e do lado argentino Harberton tornava-se indistinguível. Depois entretive-me a contar a nossa viagem e a minha vida aos demais e na última parte do percurso o guia colocou-se estrategicamente à frente dos dez turistas, sentados debaixo do toldo de plástico improvisado, e falou-nos das espécies de pinguins que iríamos encontrar na ilha, a sua história e o seu comportamento. Devia achar que éramos um bocado limitados uma vez que repetiu tudo duas vezes. Só depois me apercebi que uma foi em castelhano e outra em inglês.
Entre as várias coisas que nos disse, gostei especialmente de uma particularidade dos pinguins. Os ditos cujos tem apenas um conjugue em toda a vida! Com excepções, logicamente, mas na sua maioria são fiéis ao seu parceiro, e depois dos 6 meses que ciclicamente passam no mar, separados um do outro, regressam à base e reencontram-se. Não é demais?!
Assim que nos aproximámos da ilha ninguém mais quis saber dos esclarecimentos do guia. Centenas de pinguins faziam do areal uma praia lotada! Ao longe parecia uma reunião de homenzinhos atarracados vestidos de fraque. Muitos homenzinhos. Muito atarracados.

O barco atracou na areia e o guia exigiu a nossa atenção para nos informar das regras do passeio, que duraria cerca de quarenta minutos e incluía uma visita a todo o habitat daquelas criaturas cómicas, com as quais é terminantemente proibido o contacto físico. Eu, que não precisaria dessas instruções, não tirei os olhos dos pinguins, a uns dez metros de nós, e nos momentos em que desci ao planeta para recuperar do deslumbre extenuante, ouvi não mais que palavras soltas como “fotos” e “cócoras”.

O guia saltou para a areia e ajudou os turistas a descer, um a um. Eu filmava o que mais tarde será um filme de Manuel Oliveira, quando Andre se aproximou e me disse que saltasse do barco. “Puedo bajar para filmar”, perguntei-lhe contente. “No. Puedes bajar para ir con los otros! Te cobrare solamente los 70 igual…”, piscou-me o olho.
Saltei do barco felicíssima!
Os pinguins são engraçadíssimos. Na verdade são uns trogloditas e nessa característica reside grande parte do seu carisma. São pássaros, mas não voam. Tem figura de freira, mas andam como um bêbado cambaleante. São calmos, mas os seus gestos são repentinos, como se nervosos. Pareciam não se incomodar com a nossa presença, o que faz algum sentido já que nós estávamos nitidamente em minoria. Mais a mais limitávamo-nos a observá-los enquanto o guia despejava todo o conhecimento teórico acerca das várias espécies. (segundo a inezinha, e até há bem pouco tempo, havia uma espécie de pinguins, muito rara, que voava. Esta mulher ainda se arrisca a um Nobel da ciência).

A princípio estava um bocado nervosa, com medo de fazer asneira pois não escutara peva do regulamento. As palavras “fotos” e “cócoras” soavam na minha cabeça. Será que não me podia pôr de cócoras para tirar fotos? Não fazia sentido, mas pelo sim pelo não mantive-me esticadinha e junto ao grupo, de câmara na mão sempre no on, e contrariando a enorme vontade de ir fazer um amigo entre os pinguins. Entretanto o Dan elucidou-me que só não podíamos gritar, afastar-nos muito do grupo ou tocar nos pinguins. Podíamos aproximar-nos desde que suavemente e de cócoras para que não se sentissem ameaçados e quanto a tentar fazer amizade com um pinguim, o guia nada referiu.
Andámos por toda a ilha, vimo-los reunidos em conspirações secretas, espreitámos os seus ninhos
(toca de pinguin magalhanico)– que são mais como tocas – invadimos a privacidade de uns pobres coitados que estavam a trocar de roupa e tinham acabado de tirar o casaco de peles, digo, de penas, ficando obviamente incomodados com a nossa presença – vocês também não gostariam de ser apanhados com as calças na mão e pior ainda, ser fotografados!
(pinguin a trocar de penas)
Mas a fotografia é outro assunto. Constatámos que aqueles seres adoram posar para as câmaras. Conseguem manter uma expressão estática para o fotógrafo mais demorado, sem timidez, e no olhar um subtil vestígio de vaidade, até. Elegemos para melhor modelo do ano o único espécime de pinguim Pygoscelis papua que encontrámos.
Estava isolado com o mar e as montanhas de fundo, posou para uma longa sessão fotográfica em diferentes ângulos e seguiu-nos até ao grupo de pinguins Spheniscus magellanicus para onde nos dirigimos depois.

Quando terminou a volta à ilha, o vento soprava tão forte e tão frio que todos nos sentimos aliviados por partir, que apesar do patrocínio aparente TheNorthFace, já não suportávamos o rasgar do vento e das lâminas afiadas do frio nas mãos e na cara. Os pinguins, salvo dois ou três que vi abrigarem-se atrás de um tronco, continuavam na praia, impávidos e serenos, qual “northface” qual nada, e alguns ainda entravam e saíam da água como se fosse um piscina aquecida.

A estância repousava sob a luz do entardecer e todos levámos o brilho dessa luz no olhar.

5 Comments:

Anonymous Anónimo said...

24 de Março?
Estamos no fim de Maio...
Estará a Sra Dra a perder a pachorra para o Blog?

O pânico espalha-se entre a devota comunidade de fãs. "(...) mais pormenores só daqui a uns tempos, isto se eu alguma vez conseguir recuperar o atraso na escrita e se não desistir entretanto..." O anúncio do apocalipse.

Quiçá (como bons discípulos, sigamos os ensinamentos do mestre LOL) seja este o último post. Num temor reverente, mas com o coração cheio de esperança, contenta-mo-nos com os pinguins...

sexta-feira, maio 26, 2006 1:40:00 da tarde  
Anonymous Anónimo said...

contentamo-nos

Lorpa!

quarta-feira, maio 31, 2006 12:39:00 da manhã  
Blogger Helder Gonçalves said...

Antes de mais, muitos parabens por este fantástico relato que li sofregamente e como se não houvesse amanhã. Igualmente viciado pelo sentimento de partir e pelo gosto pela fotografia encontrei aqui um dos mais fantásticos relatos do espirito de viajar sem fronteiras e estrada-a-fora. Obrigado e acalento a esperança de que tu Inês encontres a paciência para escrever aqui e se não a tiveres ao menos umas fotos.
Abraços e continuação de uma boa viagem,
Helder

quarta-feira, maio 31, 2006 6:57:00 da tarde  
Anonymous Anónimo said...

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sábado, fevereiro 20, 2010 1:46:00 da manhã  
Blogger Sara said...

Eu gostaria de ter animais, mas eu não tenho muito espaço em minha casa, eu espero que um dia eu possa ter algum, eu sempre passar por um veterinário e ver como dar ração para coelhos

terça-feira, junho 25, 2013 5:47:00 da tarde  

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