segunda-feira, abril 17, 2006

ARGENTINA, Buenos Aires, 7 a 12 de Março de 2006


Atenção! Procuro substituto para o meu namorado.
Terá que ser do sexo masculino e maior de idade, de preferência maior que 26 anos.
Terá que ter as qualidades do meu futuro ex, isto é, ser bem aparentado, ter graça, ser culto, ter bom gosto para música, gostar de escalar e de preferência de vários desportos, adorar o ar livre e viajar, por exemplo de kombi pelo mundo, entre outros…!
Além disso terá que ter algumas das que lhe faltam: tem que conseguir passar da meia-noite sem começar a pestanejar de sono! Gostar de balada! Alinhar nas minhas propostas de ir ouvir uma rockalhada a um barzinho qualquer e não vir cá com desculpas que já está velho para estas coisas, ou com condicionalismos do género “se o bar estiver vazio”, ou, “se for só 5 minutos”.
Uns copos em Buenos Aires!!? Quem resiste a isto, meu senhores? Chama-se Frederico Kuhl de Oliveira e eu estou decidida a arruinar-lhe a reputação, expondo a sua caretice ao público, muito embora seja ele o jornalista.
Aguentei vários “nãos” no Rio de Janeiro, também vários na Bahia e depois em São Paulo. Em Florianópolis bastou um “não” que o segundo já era escandaloso demais, mas ele cedeu, que motivos mais altos se alevantaram. Rio Grande do Sul nem tentei, pois íamos na missão de fugir do Carnaval, porque sua excelência partiu do princípio que ia odiar o Carnaval. Em pleno Brasil! Noooooooooossa.
O Uruguai passou por nós a correr e não houve grandes oportunidades para saídas à noite, mesmo assim, a única que houve, foi reprovada em silêncio, com um simples abanar da cabeça. E depois teve o desplante de ficar a ver o Benfica – Estrela da Amadora até às 4h da manhã!
Agora Buenos Aires foi o fim da picada. Farta de ter um montão de energia para gastar e não ser correspondida, de passar por cidades que acordam à noite e não poder conhecê-las despertas, ou então conhecê-las sozinha e depois ter de apresentar um relato completo de quem conheci e ainda para mais ter de ouvir que sou uma galdéria, decidi tomar medidas drásticas. Quero um substituto.
Ah! Já agora, um substituto com cartão de crédito incluído e que não o perca por favor. Que isto de ser a mulher a sustentar o homem não me parece bem! (todos os candidatos podem escrever para fredkuhl@hotmail.com para mais esclarecimentos sobre a futura noiva porque é bom que saibam no que se estão a meter. Já diz o povo e com razão, quem avisa amigo é! E se o rol de queixas da jovem é largo, por favor passem-me um rolo de papel higiénico para começar a enumerar algumas das singularidades da nossa dra.)


Saídos do barco, ninguém nos parou, revistou, nem nada! Entrámos na Argentina como quem passa de Portugal para Espanha e fomos directos a casa da Carolina – a “portenha” que ficara nossa amiga na Chapada Diamantina, Brasil. As indicações que nos dera por e-mail levaram-nos direitinho à sua porta, numa rua tranquila de Palermo, uma das zonas ricas da cidade.
Fizemos do seu T1 a nossa base. Dormíamos na kombi, mas tomávamos o pequeno-almoço num 4º andar com vista desafogada sobre a cidade! O Fred aproveitou o tecto para passar dois dias a trabalhar usando a net do vizinho, pois mais uma vez se confirmou que na América do Sul ainda não descobriram o uso das passwords. (confesso que também aproveitei para pôr em dia a Liga dos Campeões na ESPN e Fox Sports.) Eu entretive-me a passear a pé e de “coletivo” nas grandes avenidas da capital cosmopolita, enchendo os olhos nas montras das lojas, cafés antigos e restaurantes estilosos e no segundo dia já me atrevi a ir de Kombi, lado a lado com os portenhos de costela italiana ao volante. (que devem ter ficado aterrorizados ao aperceberem-se que existe alguém mais demente ao volante do que eles!!!)

(kombi à porta do Café Tortoni)
No terceiro dia fomos os dois fazer o circuito turístico dos monumentos, assistimos a uma manifestação na Praça 25 de Mayo, lanchámos no Café Tortoni – um dos lugares mais tradicionais da cidade, palco de espectáculos de Tango – e à noite jantámos num Sushi. Seguiu-se o momento da discórdia. Eu queria parar num barzinho ou dois, já nem digo ir dançar um Tango apaixonante, que tão pouco é um estilo de dança que me agrade por aí além, mas o menino queria ir dormir e não houve súplica que o convencesse. Ameaçado de ser trocado, cedeu a uns dez minutos num bar vazio, ao lado de casa e que só começaria a badalar 1 hora depois. Acabada a Coca-Cola trocou-me pelo saco-cama! (um saco cama de qualidade, é preciso dizer!)


Buenos Aires é uma cidade sul-americana mas com um brilho nitidamente europeu.
Desde os parques e os jardins de Palermo, às cores vivas e o sotaque italiano da Boca, passando pelo aroma clássico de San Telmo, o distinto travo europeu de Recoleta e o moderno Puerto Madero, a nossa Kombi correu Buenos Aires de uma ponta à outra, Córdoba, Corrientes, 9 de Julho, Libertador, todas as grandes avenidas e no final eu sentia-me uma perita, quer como condutora a solo, quer como co-piloto, planta da cidade qual palma da mão.


Levámos a Carolina jantar fora e ela escolheu um restaurante de comida típica argentina, pelo que comemos uma “parrillada” de carne 5 estrelas acompanhada de um vinho tinto tão bom que parecia português! Saímos de pança cheia, mas tal como o meu sábio paizinho me ensinou, o estômago tem um compartimento reservado para a sobremesa e assim ainda pude saborear o melhor gelado da cidade (aqui é importante salientar que o compartimento para sobremesa de que a cara dra se refere tem o diâmetro de uma piscina olímpica!) Uma fila de pessoas saía porta fora, à espera de serem atendidos, e ainda para mais era uma noite fria. “Estes portenhos são doidos!”, cito. Mas em Roma sê romano, portanto há que esperar e, por fim, dar razão à fama da geladaria. (Meu rico Santini!)
Entretanto a Flu fez 2 meses em Buenos Aires mas não estava muito disposta a festas, porque na véspera do seu “cumpleanos” os seus donos maldosos levaram-na ao veterinário, que lhe deu uma injecção no rabiosque. Para se vingar fez uns quantos xixis no soalho da casa da Carolina, que esteve prestes a arrepender-se de nos dar guarida.
No último dia fomos conhecer o Tigre, a Veneza da Argentina, segundo a inocente Carolina, que obviamente nunca viu Veneza em toda a sua vida. Mas é bonito, sim senhor, um vilarejo tranquilo e organizado, casinhas de estilo nórdico, um ou dois canais no meio do vilarejo e quando muito um travo muito subtil a Amesterdão, nunca Veneza. (Que simpática! A mim pareceu-me mais uma versão de Aveiro sem os ovos moles.)
Depois, um adeus fugidio e mais uma amiga ficou para trás.


Glossário
“portenho” – natural de Buenos Aires;
“coletivo” – autocarro;
“parrilla” - comida típica argentina, que consiste em vários tipos de carnes (lomo, bife de chouriço, morcilla, etc) assadas na brasa, servidas num tabuleiro de metal quente.
“cumpleanos” – aniversário;
(PS: é com muita pena que confesso que verdadeiras pérolas da língua castelhana se têm perdido por falta de profissionalismo da minha parte. O que é certo é que a inezinha consegue inventar palavras em portinhol jamais prenunciadas ou sequer imaginadas por qualquer ser vivo. Prometo, futuramente, estar mais atento para vos brindar com verdadeiros atentados à língua de Cervantes)